Apesar de o uso ser frequente, usuários defendem bom senso e cuidado com o que é postado
Apesar de o uso ser frequente, usuários defendem bom senso e cuidado com o que é postado
Emanuel da Silva, de 29 anos, já teve dois celulares e quatro chips, um de cada operadora, para conseguir falar com todos os clientes. Eletricista, ele precisava se manter disponível e ser de fácil acesso, independentemente da empresa escolhida pelo solicitador de seus serviços.
“Hoje o Whatsapp resolve tudo”, admite. Ele representa milhares de brasilienses que utilizam a tecnologia todos os dias, mas há espaços que não servem para tudo. É preciso ter limites para a boa convivência em grupos.
O eletricista não coleciona muitos grupos e não é mais refém de chips. Se limita aos da família, de seu curso e dos colegas de profissão e aproveita o wi-fi de lugares públicos para trocar mensagens.
“Eu estava em vários, mas fui saindo. Toma muito tempo, apita toda hora e rouba a bateria”, lista. Mas esses fatores não são os que mais o incomodam. “O maior problema é que mandam muita coisa inconveniente”, afirma Emanuel da Silva.
Tem de tudo
São correntes, imagens de bom dia, figuras engraçadas, brincadeiras fora de hora, violência e até safadeza, como diz. Raramente as mensagens se relacionam ao objetivo pelo qual o grupo foi criado.
“Acredito que a ferramenta é muito útil, mas tem que saber usar. No (grupo) do curso, é bacana para tirar dúvidas, pegar uma matéria perdida. Mas tem vezes em que você abre e há dezenas de mensagens que não têm nada a ver. O Whatsapp serve para quem sabe usar”, determina o eletricista.
Mais consideração
E saber usar inclui os momentos em que não deve ser utilizado. Apesar das facilidades do aplicativo, há situações em que nada substitui uma conversa falada ou um encontro presencial.
Terminar um namoro, informar sobre doenças ou mortes e convites de casamento e aniversário merecem mais consideração. Basta pegar o telefone e lembrar que ele foi criado para fazer ligações, conversar ou marcar um encontro.
“Tem que ter bom senso”
Para a estudante Rafaela Santos, de 17 anos, o segredo é ter bom senso. “Já fui adicionada em uns 20 grupos, mas saí de todos”, conta. Nem naqueles compostos apenas por familiares ela diz permanecer. “Tenho preguiça do acúmulo de mensagens, da memória do celular, da bateria que acaba rápido”, justifica a estudante.
Ela lembra de um caso específico de colegas da escola. “No início, o assunto era o colégio, mas começaram a mandar vídeos e fotos proibidos. Tem gente que gosta e não se importa. Eu não gosto. As pessoas foram saindo aos poucos, e criamos outro com tema definido”, conta. Se a colocarem em um grupo que não concorda com o conteúdo, ela garante não haver constrangimento em sair.
“Tem que respeitar os objetivos de cada grupo. Não dá para abrir e se deparar com 80 mensagens que não dizem nada. Mensagens importantes se perdem no meio de piadas, imagens e áudios. Tem que ter bom senso. Se o grupo é de trabalho, fale sobre trabalho. Se é de festa, é mais liberado”, indica Rafaela.
Desafio é conferir todas as mensagens
“Tocou, pego e confiro”, afirma Leidiane Souza, 20 anos, sobre sua rotina com os grupos do Whatsapp. Desempregada, ela mantém dez grupos no aplicativo: de família, animais, desapegos, peças de roupa. Garantindo que consegue acompanhar todos eles, ela conta que “às vezes, alguém dá uma escapada e posta o que não deve” e, por isso, é preciso ter cuidado com as postagens.
“Nem sempre todo mundo aceita brincadeiras. Tem quem queira só arrumar briga e já manda a mensagem com esse objetivo. Mesmo assim não acho que tenha que se restringir ao assunto. O grupo é livre”, pensa.
Não é fácil conferir o que acontece em 15 grupos simultâneos. Por isso, o almoxarife Wanderson Lopes, 18, admite que deixa alguns de escanteio. “Só abro para tirar as notificações, mas não leio todas as mensagens”, reconhece.
“Acho que, para não deixar o grupo morrer, as pessoas acabam mudando a característica para continuar causando. Eu gosto dos grupos mais organizados, que, quando o assunto acaba, o grupo morre. O grupo da igreja é o único que se mantém no tema”, explica Wanderson, que diz gostar do aplicativo pela instantaneidade. “Às vezes, não pode ligar, mas é possível mandar uma mensagem. Ajuda muito no dia a dia, mas tem que tomar cuidado”, alerta.
Ele mesmo já mandou uma mensagem para a pessoa errada. Mas nada como os secretários da Justiça e Educação do GDF que, no intervalo de um mês, mandaram fotos de uma mulher seminua e de um ato sexual, respectivamente, a grupos do alto escalão do governo. Os equívocos levaram ao endurecimento das regras de uso de celulares funcionais. No caso de Wanderson, o erro não gerou saia justa.
Ponto de vista
Marcello Cavalcanti Barra, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a informalidade dos grupos tem vantagens e desvantagens. Enquanto não é agradável receber mensagens e prestar informações durante a madrugada, um entrosamento dos colegas de trabalho, por exemplo, é benéfico para o ambiente físico. “O Whatsapp foi a primeira tecnologia que integra texto e áudio e massificou. É interessante, mas a telecomunicação no Brasil é muito cara se comparada em níveis internacionais, a menos que esteja em uma área pública com internet grátis, o que é raro em Brasília. É preciso pagar para usar o aplicativo”, alerta. Ele explica, ainda, que, da mesma forma que os e-mails são usados como provas nos tribunais, há anos, o histórico de mensagens também contribui em processos.
Saiba mais
Históricos de mensagens de Whatsapp podem ser usadas como prova no caso de uma ação judicial.
As provas tecnológicas, como são chamados fotos, vídeos e áudios, atestam depoimentos e evidências.
A própria Polícia Civil já comprovou vários casos de venda de drogas, por exemplo, por meio de históricos de aplicativos.
Fonte: Jornal de Brasília.
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